Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A Cratera de Pinatubo - Filipinas

(English version below) A subida à cratera Pinatubo consistiu em duas partes perfeitamente distintas. Fizemo-nos à estrada ainda de noite, às cinco. Montados no jipe, aguardava-me a viagem mais dura num 4x4 de que tenho memória. Deixa-se o alcatrão e as facilidades da vila de Botolan para se mergulhar numa extensão de areia cinzenta. O veículo cambaleava, e com ele os corpos, como bonecos. Logo de seguida, sem aviso, o piso torna-se tão pedregoso que é como se os pneus nos bombardeassem. Ora bem, até aqui, foi divertido. Chegou o rio, muito largo mas com pouca profundidade. Uns aldeões acabavam de o atravessar com um potente búfalo e carroça. O condutor pediu-lhes instruções – garantindo-nos portanto que ele não tinha certeza do que fazia. A ofensiva ao rio aconteceu a alta velocidade. Água espirrou por todo o lado, para dentro do jipe e das nossas coisas, mas isso por enquanto são tudo danos colaterais. Quando, em terra firme, a velocidade aumentou, todos os passageiros d
Mensagens recentes

Perahera - encontrar o maior festival do Sri Lanka

SEE BELOW FOR THE ENGLISH VERSION Perahera Em Kandy é considerado o maior espectáculo e demonstração cultural do país, mas a versão indiscutivelmente menor que me tocou na zona de Aluthgama (talvez um vigésimo da sua dimensão)já deixa uma bela impressão. Sendo um festival budista que celebra o primeiro ensinamento de Buda depois da Iluminação, exibe em procissão uma das suas relíquias. Relaciona-se também com uma outra procissão em tempos considerada essencial para chamar a chuva. Os primeiros rapazes trazem longas cordas castanhas, são chicotes mas mais fazem lembrar um peludo animal comprido. A forma como o projectam no ar produz um som tremendo - sem nos bater, o som chicoteia. Uma vez que não guardam grande distância entre si, não é compreensível como conseguem não se maltratar uns aos outros ou mesmo a assistência acotovelando-se para os ver. Depois desta abertura surge o primeiro elefante. Vestem-no com uma indumentária carregada de electricidade, com luzes o

Paris, Sintra e um harém marroquino em Lisboa.

(publicado pelo Jornal de Letras, Julho 2015) Raquel Ochoa viveu o último ano entre Paris e Sintra enquanto escreveu sobre a história verídica de um harém marroquino perdido na Lisboa setecentista. A autora de “A Casa-Comboio”, “Mar Humano” entre outros, acaba de lançar o romance histórico “As Noivas do Sultão”. E conta-nos um pouco dele. 31 de Dezembro de 2014 Passagem de ano nas ruas de Paris. Bom champanhe. Já a fazerem a festa não há tanto talento. 2 de Janeiro de 2015 Mas o início do ano está salvo com a ida à Normandia, às praias do desembarque, passear-me nos bunkers, olhar para o mar cinzento deste dia de Janeiro sem vento, e imaginar nesse infinito o primeiro pintalgar de embarcações, a maior invasão, as praias agora à espera de atenção de alguém a serem esventradas, abalroadas, vidas perdidas como soprando grãos de areia, para acabar com a maior guerra do mundo. 5 de Janeiro Regresso a Paris, regresso ao trabalho. Desde Outubro que escrevo “As Noiv

A melhor viagem de sempre

(publicado pela revista Focus - Março 2011) é A VIAGEM QUE AINDA NÃO FIZ A melhor viagem que já fiz talvez seja a que ainda está por fazer. Uma ida ao topo do Kilimanjaro, às estepes da Mongólia, ao recife de coral da Austrália, às picadas de Moçambique, aos trekkings em Yellowstone na América do Norte. Porque é esta a filosofia, nunca parar. O mundo muda, a Índia que conheci em 2001 e 2002 não é a mesma que encontrei em 2007. Que não será a mesma que encontrarei neste afortunado regresso em 2011. Ainda bem que estive em Torres del Paine, extremo-sul do Chile, antes do grande incêndio que consumiu parte considerável do parque. A vida inteira não chega para explorar nem sequer metade da sabedoria do planeta. Se não estou a viajar - é uma máxima - estou a trabalhar para o fazer. A melhor viagem que realizei na vida foi a viagem que ainda não fiz. Costumo dizer aos que me rodeiam que não é só importante viajar mas fazê-lo o mais depressa possível. O mundo está em

Angkor - Cambodja : O Mais Belo Parque do Planeta

(publicado na revista Travel Safaris nº13) A história de Angkor preenche centenas de livros e mesmo assim ainda está longe de estar a descoberto. À semelhança dos seus templos durante séculos devorados pela selva, assim se mantêm algumas histórias, quiçá as mais interessantes, de um império que teve a originalidade fundir hinduísmo e budismo. Talvez por isso seja para os viajantes uma experiência que não termina com uma primeira visita. Foi essa a sensação depois de ter andado a percorrer livremente os templos durante três dias – necessitava de, pelo menos, mais três. É uma viagem de luxo que pode ser vivida com mais ou menos conforto, à escolha. De seguida conto-vos as minhas para visitar aquele que devia ser um dos principais destinos de quem se julgue um explorador. Esta não é uma crónica acabada, uma narrativa com princípio meio e fim. É uma tentativa de compreensão porque Angkor é tão extenso e tão viciante. Angkor Wat é o nome sonante reconhecido mundialmen

Jornal de Letras - há algum tempo escrevi a rubrica "Diário" - agora divulgo.

Bolívia, Cordillera Real, 2012 Raquel Ochoa 34 anos, publicou duas biografias e três romances, um dos quais distinguido com prémio literário revelação Agustina-Bessa-Luís, mas começou por escrever uma crónica de viagens “O Vento dos Outros”. Chama-lhe “língua-mãe” e o seu percurso explica porquê. Mundo aos goles (pouco) espaçados Agosto de 1999 Percorrer a Europa para fugir dela, já havia pressa de compreender o que consistia o além, sondar o transcontinental, e por isso, com três amigos, o interrail tinha a Capadócia em mente, passando por Itália, ilhas gregas, entrada por Ankara e longos percursos de autocarro até ao casario de cavernas, a paisagem de deserto esculpido. Agosto de 2000 Foi tão grande o impacto da primeira viagem que logo se criou nova oportunidade de partir. Desta vez, outro interrail, sem companhia a maior parte do tempo, pelas ilhas croatas, ao longo da Europa do Leste, Alemanha e Holanda. Viajar só com a mochila, um caderno e dois livros