Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2009

Sikkim - O escondido Reino Himalaia

Os vistos e permissões são carimbados em Siliguri, a entrada no 22º Estado da Índia está assegurada. O segundo estado mais pequeno e o menos populoso está encostado ao Tibete (administrado pela China), ao Nepal e ao Butão e a sua história é de invasões e tratados de paz, Budismo e Hinduísmo que à mistura se foram adaptando às encostas escarpadas e profundos vales neste recanto de Himalaias tropicais. O clima oscila entre temperado, tropical e alpino, uma vez que a altitude varia entre os 280 metros e os 8590, mas Sikkim é diverso em vários outros aspectos, a população reparte-se entre lepchas, bhutias, e nepaleses, o que, culturalmente, triplica o interesse da região, sobretudo por conviverem pacificamente. Residem outras comunidades de emigrantes, nomeadamente tibetanos, sobretudo no Norte e no Oeste do Estado. O autocarro apinhado dirige-se a Gangtok, as sucessivas paragens devem-se aos desvios improvisados que escapam aos destroços das enxurradas da estação das chuvas que lamberam v

Sikkim em troca do Tibete

Rumtek é uma fiel réplica das instalações de Kagyud, no Tibete. Muitos dos fiéis são tibetanos. Muitos dos tibetanos encontraram em Sikkim o início de uma nova vida, bem mais próxima da antiga realidade do seu país do que a actual realidade da colonização chinesa. O Namgyal Institute of Tibetology, por exemplo, é um prestigiado centro de tibetologia com uma rara colecção de manuscritos sânscritos, tibetanos e lepchas onde se podem observar mais de 200 objectos de arte budista que encantam os visitantes. Em 1947, uma consulta ao povo teve como resultado a decisão de Sikkim não se juntar à União Indiana, recentemente tornada independente da Grã-bretanha, pelo que o primeiro ministro Jawaharlal Nehru concordou que Sikkim seria um protectorado com um estatuto especial. Em 1973, motins em frente ao Palácio Presidencial pediam protecção formal à Índia, descontentes com as opções do Chogyal (líder político) e em Abril de 1975, através de um referendo que obteve 97,5% das votações a favor, Sik

Peru - Os carregadores dos Andes

Quem opta por chegar a Machu Pichu através do caminho inca, num trekking de três dias, cede muitas vezes a passagem a homens que levam tudo às costas. Correm em vez de andarem e transportam cargas à primeira vista impossíveis de suportar. São os carregadores dos Andes. A bruma aparece subitamente. Nada a fazia prever num céu descoberto e de um azul total até há cinco minutos atrás. Muito menos que as montanhas aqui em frente iam desaparecer do campo de visão. “Porter!!”- ouve-se gritar com força. É a palavra-passe que todos os turistas entendem e significa a obrigação de dar passagem a alguém que aí vem carregando o dobro da carga, caminhando ao dobro da velocidade. Carlos, Francisco, Sábio e Pepe são uma equipa de carregadores formada para levar a cabo mais um trekking nos Andes. As suas idades variam entre os 39 e os13 anos. São oito os estrangeiros que vão acompanhar desta vez, a maioria da Europa, uma mexicana e um chileno. Os quatro já caminham lestamente em fila indiana. Acabaram

Ganhar a vida a subir montanhas

Este é um povo que sempre viveu nos rigores da altitude, dos climas definidos e incontornáveis. É assim nos Andes, nos Himalaias, no Atlas, e em todas as grandes cadeias montanhosas. Pessoas com uma capacidade de trabalho impressionante. Viajando de autocarro pelo Peru, é frequente encontrar-se casais de pessoas já idosas, acompanhados pelas suas enxadas, catanas, e grandes sacos de sementes, descendo nos sítios mais improváveis, campos no meio de montanhas sem horizonte de área habitada num raio inarrável, e ali passam o dia, quem sabe a noite, talvez semanas, até voltarem a casa com esperança de que este ano haja uma boa colheita “por altura do Domingo de Ramos”. Os carregadores são desta “raça”, homens e adolescentes para quem a montanha significa os únicos horizontes possíveis, a fonte de subsistência, o retiro espiritual, o sacrifício diário. No Peru a maior parte da população do interior vive da agricultura. O turismo em ascensão que despoletou nos últimos anos uma economia quase

Peru - Espírito semi-indígena

Sábio Lopez é o primeiro a levantar-se, tem 39 anos e quem mais experiência como carregador. Desde os seus vinte que percorre estes trilhos: “Já vi mais europeus, norte americanos ou australianos, do que peruanos ou sul-americanos. Mas conhecer, conhecer, falar com as pessoas e elas comigo, lembro-me de cinco ou seis.” Afirma desatando os atilhos da sua carga, todos enrodilhados à volta de um oleado que abriga todo o amontoado de coisas que ali são trazidas. Ao volume que cabe a cada um, improvisam-se umas alças daquele material também, que o liga ás costas, embora de uma forma totalmente precária, suportando exclusivamente o esforço nos ombros. O facto de Sábio não ter convivido com muita gente de outros continentes, explica-se sobretudo pelo seu castelhano ser quase inexistente, não saber escrever uma palavra e não falar nenhum outro idioma a não ser a sua língua, o quechua: “Nunca fui à escola, mas não saber ler ou escrever não me impediram de ganhar a vida”. É como interpreta o seu

Andes - Os Guardadores da montanha

Os parques naturais do Chile são a porta de entrada para a magia dos Andes. Para aceder à cordilheira, é preciso conhecer dois homens que dão as boas-vindas e as coordenadas a quem se propõe a explorar tais caminhos. Clement Lauffret, 60 anos, e Victor Marquez, 19, são os guardas florestais dos parques naturais de Altos del Vilcray e Torres del Paine, respectivamente. Versões distintas da mesma militância. Sentado na sua secretária de madeira de carvalho, D. Clement Lauffret, não desvia a atenção dos milímetros específicos que observa no mapa. É o Parque Nacional Altos del Vilcray que D. Clement administra há 12 anos e onde vive permanentemente. Situa-se no centro do Chile, paredes-meias com o mais conhecido Parque Nacional de Las Siete Tazas, uma estrutura geológica de granito por onde a água cai em cascatas, “de taça em taça”. Siete Tazas e Altos del Vilcray partilham a linha da cordilheira dos Andes que os atravessa e a intensa fauna que percorre todo aquele espaço em movimentos mig

Andes - Montanhas e cordilheiras para contar

D. Clement repete várias vezes que refastelar-se numa poltrona na sua idade é um perigo, usando a recorrente ironia que lhe dá um traço misterioso. Trocou a família pelas montanhas há cerca de 20 anos, quando se tornou funcionário da CONAF, o organismo que gere as reservas ecológicas do Chile. A sua relação com a montanha é porém muito mais antiga. Depois de ter subido e escalado todas as montanhas do Chile, Peru, Bolívia, Argentina - navegando de Norte a sul pela cordilheira dos Andes - rumou à Europa. Não satisfeito com os Alpes, fez duas viagens ao Nepal. Uma foto de um pico gelado de 8000 metros do Maciço de Annapurna, nos Himalaias, ocupa lugar de destaque na sua sala, precisamente sobre o umbral da lareira. Mas há outras, uma foto a preto e branco nas montanhas de Bariloche (Argentina, Patagónia-norte), como um sorriso de criança e satisfação. Outra enquadra-o numa paisagem do Monte Branco, com um rosto a dar as boas-vindas às primeiras rugas e um olhar mais longínquo. As estante

Andes - Torres del Paine, na ponta sul da cordilheira

A muitos quilómetros dali, não longe da Isla Grande de Tierra del Fuego, o sítio mais a sul do continente, Victor Marquez prepara um café. O pó é retirado de uma embalagem que originalmente foi de chocolate quente, mas este guarda-florestal preveniu-se contra as suas próprias distracções e colou-lhe uma tosca etiqueta com o nome do conteúdo actual. Tudo é demasiado precioso para ser desperdiçado, uma vez que, para estarem ali, foram carregados às costas durante algumas horas, portanto os mantimentos ali existentes são os imprescindíveis. Victor tem 19 anos, pouca paciência para a escola ou uma imensa paixão pelas duas facetas opostas daquele parque e daqueles montes: o convívio e a solidão. Nasceu em Punta Arenas onde reside nos seus cinco dias de folga, que acontecem a cada 12 dias de trabalho. Punta Arenas é a maior cidade do extremo sul chileno, e fica a 3 horas de autocarro de Puerto Natales, a cidade mais próxima do Parque Nacional Torres del Paine, um dos parques naturais mais co