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Andes - Os Guardadores da montanha




Os parques naturais do Chile são a porta de entrada para a magia dos Andes. Para aceder à cordilheira, é preciso conhecer dois homens que dão as boas-vindas e as coordenadas a quem se propõe a explorar tais caminhos. Clement Lauffret, 60 anos, e Victor Marquez, 19, são os guardas florestais dos parques naturais de Altos del Vilcray e Torres del Paine, respectivamente. Versões distintas da mesma militância.


Sentado na sua secretária de madeira de carvalho, D. Clement Lauffret, não desvia a atenção dos milímetros específicos que observa no mapa. É o Parque Nacional Altos del Vilcray que D. Clement administra há 12 anos e onde vive permanentemente. Situa-se no centro do Chile, paredes-meias com o mais conhecido Parque Nacional de Las Siete Tazas, uma estrutura geológica de granito por onde a água cai em cascatas, “de taça em taça”. Siete Tazas e Altos del Vilcray partilham a linha da cordilheira dos Andes que os atravessa e a intensa fauna que percorre todo aquele espaço em movimentos migratórios buscando comida e local apropriado à nidificação.
D. Clement, um espírito indigente de 60 anos com vigor de 30, é o decano dos guardas florestais de Altos del Vilcray, território que lhe corre nas veias. Como o casal de australianos que agora chegaram à cabana todos os turistas caminhantes que queiram visitar o parque, terão de anotar o seu nome no registo de entradas e saídas, bem como informarem-se dos pormenores mais importantes das condições para visita e pernoita. Este casal chegou com intenções de fazer um suposto trilho que liga as duas reservas ecológicas, acampando pelo caminho. D. Clement é obrigado a explicar que esse caminho ainda não está marcado e sinalizado, ou seja, os próprios guardas-florestais ainda não conseguem fazer esse percurso com a total segurança de não perderem o trilho, pouco mais que uma linha apenas traçada pela bússola .
Explica-lhes que há pouco mais de um mês, saiu um grupo destes funcionários, para reconhecerem terrenos ainda mal explorados dentro do perímetro do Parque.
Passados os cinco dias de expedição, quando D.Clement os esperava, não apareceram, e foi necessário recorrer a tecnologia de GPS para os localizar.
D. Clement acentua, baixando um pouco os óculos sobre o nariz: “E pessoas desaparecidas para sempre é uma história demasiado bem conhecida por nós neste Parque…” Volta a colocar os seus óculos bem graduados em frente aos olhos. Faz uma pausa e esboça um sorriso sem mensagem.
Os turistas não chegam a perceber se é verdade ou simplesmente exagero esta última informação. Pelo sim, pelo não, decidem não correr o risco e questionam sobre um itinerário alternativo.
Os Parques Naturais no Chile têm dinâmicas muito próprias, assemelhando-se a ilhas, com cultura e regras bem distintas do resto do território. As informações que os turistas recebem na cidade muitas vezes não coincidem com a realidade. Especialmente aqui, numa reserva enorme e com paisagens deslumbrantes, mas sem grande ou nenhum investimento na sua divulgação. Dentro dos limites territoriais de Altos del Vilcray encontra-se uma comunidade considerável de raposas, pumas e tarântulas. Percorrer trilhos não sinalizados é capaz de ser má ideia.

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