

Ilha de Santiago
Saímos do aeroporto de Lisboa às 15h. O moço que nos acompanha faz-me um sinal estranho. Pergunto-lhe em voz alta qual a sua dúvida.
Ele questiona timidamente:
- É o Bana não é? - Bana ri-se. Confirmo.
É assim todo o caminho. As hospedeiras do avião da companhia aérea, bem como os outros passageiros fazem uma expressão de surpresa quando o vêem.
Cabo Verde surge no horizonte como um conjunto de luzes navegando no oceano. O clima em Santiago está muito quente e húmido, promete uma boa chuvada para breve.
No dia seguinte tenho a oportunidade de conhecer Kim Alves, a quando da sua visita ao cantor Bana. Tenho curiosidade porque, além de conhecer algum do seu trabalho, é o único músico com quem Bana quer actuar, aqui nesta ilha. Capricho ou rigor? Não sei. O que é certo é que Kim Alves toca quase todos os instrumentos que há no mundo e construiu um estúdio em Santiago, apostando na valorização da música nacional.
Noto também nele o disfarce da idade. É impressionante como quase todos os cabo-verdianos aparentam menos dez ou quinze anos. Se fosse em Portugal, cometeria várias inconveniências usando o tratamento por “tu”, equivocada com a idade que parece tão próxima da minha. Mas aqui normalmente reina a descontracção. As ilhas são pequenas mas as idas e vindas que a vida de emigrado obriga, torna preciosos estes momentos, estes encontros. Lá fora chove muito. As pessoas resguardam-se, as estradas tornam-se menos transitáveis mas tudo isso terá uma grande vantagem…O interior vai ficar verdejante, nos dias seguintes vai ser uma verdadeira explosão de clorofila para os olhos.
A apresentação do livro está marcada para as 18h30 e embora não se encha a biblioteca, está patente nos olhos o interesse sincero dos que nos escutam. O Sr. Ministro chega atrasado, mas senta-se na primeira fila e participa com contido orgulho. Estão na plateia figuras que ouvi falar ao longo de todas as histórias que escutei ao escrever a biografia do Bana: Tututa, Ramiro Mendes, Kim Alves, Príncipe, além do Sr. Embaixador de Cabo Verde em Lisboa, incentivador desta obra desde que o contactámos.
Raia novo dia , vou ter a oportunidade de conhecer o interior montanhoso e imedível de Santiago. Estou acompanhada de Príncipe e Chico Serra, famoso pianista que não passa por Santiago sem ir à Assomada, comprar as melhores linguiças que se fazem no país, disseram-me. Pelo caminho - montes e vales, pequenas aldeias e gente percorrendo trilhos com enxadas nas mãos e obrigações por cumprir nos passos em qualquer direcção. Lembro-me dos primórdios desta terra, lembro-me de tantos escravos que deverão ter fugido para o interior destas montanhas assim que houvesse uma oportunidade. Imagino como seria estar numa ilha, refugiado nas montanhas, sem poder daqui sair, mas ao mesmo tempo em liberdade. Ser badiu, naqueles tempos, devia ser um estranho sentimento.
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