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A mostrar mensagens de março, 2009

AS MONTANHAS DOS SHERPAS, O OXIGÉNIO DOS DEUSES

A subida ao Campo Base do Everest De Jiri a Kala Patar, o velho percurso que alcança o sopé do Everest, antes ainda dos aviões chegarem a Lukla até há uns anos, era o único e longo caminho possível para chegar ao Base Camp do Everest e Kala Patar, o local onde melhor se avista o ponto mais alto do mundo, sem o escalar. A riqueza que o turismo trouxe é distribuída de forma irregular e se em certas zonas em tempos se lucrou muito, hoje transformaram-se em periferias pouco procuradas. Himalaias, Kumbu Valley Namche Bazar aparece solarenga, os picos brancos gelados, e os verdes de mais baixa altitude, fecham-na em ovo, dispondo-a em anfiteatro que aproveita a encosta menos a pique. É uma vila de pedra, com telhados multicolores e movimentação nas ruas situada a 3440 metros de altitude. Comércio a alto custo para os milhares de turistas que aqui se acomodam durante o ano, é também o local ideal para uma primeira aclimatização à altitude. Todo o tipo de hotéis e requintes culinários podem se

De Jiri a Kala Patar, AS MONTANHAS DOS SHERPAS, O OXIGÉNIO DOS DEUSES

Caminhos de paciência O autocarro que demora oito horas a chegar a Jiri, sai de um terminal caótico e apinhado de gente. As imagens de pobreza e doença dos mendigos confiscam a beleza à cidade de Katmandu e impelem à busca das partes mais altas, mais puras, menos oxigenadas. Horas a ver montanhas crescer, a estrada tornava-se mais insignificante e atrevida. Uma noite de repouso em Jiri (1955 metros), uma aldeia de casas de madeira e comércio destinado apenas aos locais, recorda que este é o último ponto antes de se penetrar nas trilhas sem veículos motorizados. Mulheres avantajadas encostam-se às portas das suas lojas, sentadas em bancos, disfarçadas pela quantidade de material que as rodeia, esperando que alguém lhes dê conversa. Todo o material pesado ou de grandes dimensões, parece estar estacionado neste último armazém, à espera de ser levado para os montes isolados: mantas empilhadas, pás de agricultura, grandes bidões, sanitas “Indian style” ( latrinas), canos, roupa e cestas de

Himalaias, Kumbu Valley

A chegada a Bupsa dá-se ao fim da manhã e o alojamento acolhedor de Geljen Sherpa (todos os sherpas têm este apelido) ajuda a escolha de por ali ficar. Passados seis dias, uma tarde sem caminhadas. É uma casa de pedra com dois andares, janelas pintadas de roxo e um pátio-mirante, sem nenhum hóspede até então. Geljen é um homem de quarenta e poucos anos, bonito de porte atlético e a sua estalagem está cheia de referências às mais altas montanhas do mundo; não só o maciço do Everest como também o K2 (Paquistão) e Kangchenjunga, a terceira mais alta (que faz fronteira com Sikkim, na Índia). Percebe-se rapidamente que a sua relação com as montanhas está para a além dos lindos posters que enfeitam a sala de estar. “Subi-o em 2005. Foi o monte Everest que me deu a oportunidade de construir esta casa.” – menciona de sorriso discreto. O Governo nepalês contempla os cidadãos nacionais com cerca de 10 000 euros a quem “conquiste” a mais alta montanha, uma pequena fortuna que permite começar a vi

De Namche Bazar ao miradouro do Everest

Faltam 4 ou 5 dias para Kala Patar, no mínimo. Estão reunidas forças e mentalização, fruto da climatização seguramente, para subir a grande escadaria que é a porta de saída de Namche Bazar. O caminho continua em direcção aos picos mais altos e logo ao sair do anfiteatro formado por Namche, é possível avistar montanhas tresmalhadas sem dono, isoladas e obstinadas, pouco tempo sem a companhia das nuvens. É aliás pouco depois que se avista claramente o pico do Everest, por detrás de uma Stupa branca, com dois olhos minuciosamente desenhados, hipnotizados pelas bandeirolas esvoaçantes. Aparece disfarçado pelas suas montanhas familiares, rodeado e protegido, um cume até insignificante, dá ideia ao princípio. As nuvens aparecem a meio da manhã, apoderam-se das vistas magníficas e obrigam quem por ali anda a focar paisagens mais próximas. O número de turistas aumenta consideravelmente a partir de Namche, a esmagadora maioria chegou via Lukla. Mulheres, homens e adolescentes nepaleses carregam

Ilha de Sto Antão - A TEIMOSIA DE EXISTIR

Em pleno Oceano Atlântico, uma ilha do arquipélago de Cabo Verde destaca-se das demais pela sua morfologia e latitude. As suas gentes, desde há séculos enfrentam o desafio de viver em condições acrobáticas, pendurando-se nas serras e transpondo-as com a força de uma comunidade. Encaram-se os dias. Os pais vão ensinando algo aos filhos: a teimosia de existir. As gentes de S. Antão, são um povo escalador e teimoso, as casas são construídas tendo como arrimos certos blocos de rocha, ou encavalitadas nas encostas, perseguindo as estrias vincadas da montanha. Muitas choupanas também se equilibram em confluências de rochas, encaixadas em grandes aberturas de grutas. As reentrâncias na terra, quando largas, servem de estábulo aos burros, ou de depósito de colheitas. À medida que se vai avançando pelo Paúl acima, torna-se mais claro o esforço dos camponeses desta terra: os socalcos são construídos em locais impensáveis, permitindo hortas verdadeiramente suspensas, culturas às prateleiras que q

Mar di Canal - Ilha de Sto Antão

No porto de S. Vicente aglomeram-se as pessoas prontas para mais uma travessia do mar di Canal. O Atlântico não brinca em dias de ventania mas hoje, o mar anuncia uma especial viagem de altos e baixos. O barco Ribeira do Paúl, com capacidade para 160 passageiros, recebe os de hoje através de uma escada ondulante ligada ao cais. Começa a viagem até S. Antão, o barco distancia-se da terra com a ligeireza de uma tartaruga, pequena face ao oceano, robusta face aos golpes da viagem marítima. No mar di canal a história de naufrágios é tão longa como a memória de aqui viver. O Ilhéu dos Pássaros, uma rocha plantada no meio do canal, faz as vezes de bússola, depois dele são uns 40 minutos a navegar com dois territórios insulares à vista, mas estranhamente distantes devido à força das correntes. S. Antão é a última (ou a primeira) das ilhas do grupo do Barlavento. S. Vicente sempre a usou de celeiro. Por sua vez, de S. Antão imigra-se para a cidade do Mindelo, em busca cultural e comercial. Exi

Ilha de Sto Antão - Falésias e Trapézios

Falésias e trapézios Atravessa-se Ribeira Grande à hora de saída dos quase três mil alunos do Liceu Lizete Delgado. Dispersam-se pela cidade e pelas montanhas, trepando os inóspitos desfiladeiros. Segue-se viagem para Chã da Igreja. Nhô Silva, um dos quinze passageiros que viajam na “Hiáce” aproveita a viagem para desabafar as suas preocupações, com peculiar sentido de humor: -“ Os chineses e as lojas deles já não me enganam mais vez nenhuma. Comprei lá umas sandálias que duraram dois dias. – Já viveu em Portugal muito tempo, trabalhando na construção civil. De facto, como em muitos outros locais do mundo, também em Cabo Verde as lojas chinesas imperam a cada esquina. - Já cheguei à conclusão que mais vale comprar dez camisas logo de seguida nas lojas dos chineses para as ir substituindo conforme se rompam. - remata. As conversas tornam-se impossíveis com o ranger dos travões nas descidas até Chã de Igreja, já bem junto ao mar. De Chã de Igreja a Cruzinha, uma pequena aldeia piscatória